Amplo estudo sobre ciclovia no DF é ignorado. E a situação continua sofrível a quem opta pela bicicleta no dia a dia.

Texto e imagens: Uirá Lourenço

    

Em razão do ímpeto cidadão de contribuir para uma cidade melhor, mais saudável, elaborei ampla análise da ciclovia ao longo da via W4/W5 Norte. O objetivo foi não apenas apontar problemas e destacar os pontos críticos, mas também sugerir melhorias com ações práticas a serem tomadas pelo governo local.

Após alguns meses de pesquisa, produção de texto e organização do vasto acervo de fotos e vídeos, finalizei a análise, que resultou em três produtos: um documento ilustrado com a síntese do trabalho (5 páginas com links para estudos e vídeos), uma apresentação com 146 slides e um relatório fotográfico detalhado (235 fotos). E ainda um DVD com farto material adicional de consulta (4,33 Gb), contendo legislação, álbuns temáticos, notícias, artigos e vídeos.

Esperançoso com a mudança de governo e com as propostas favoráveis à mobilidade saudável contidas no programa do governador Rollemberg, protocolei em junho de 2015 a análise da ciclovia com as propostas de melhoria em vários órgãos do GDF.* Ao final deste relato, compartilho a íntegra do documento encaminhado aos órgãos públicos. O estudo foi publicado no portal Mobilize: http://www.mobilize.org.br/estudos/205/analise-da-ciclovia-asa-norte.html

No final de 2015, às vésperas do Natal, recebi e-mail do DER com carta assinada pelo diretor-geral. Após exatos 6 meses e 12 dias do protocolo, obtive retorno.

      Resposta do DER-DF recebida no final de 2015. Em destaque, as datas do protocolo e da resposta.

Levou-se mais de 6 meses para a resposta lacônica com sugestão de que o estudo seja enviado para outro órgão. Apesar da afirmação contida na carta de que “se trata de ciclovia fora da área de competência do DER-DF”, o estudo elaborado tem grande relevância para a atuação do órgão, ao evidenciar problemas na política de mobilidade vigente e apontar soluções, que valem não apenas para vias urbanas administradas pelo Detran-DF, como também para as vias administradas pelo DER-DF.

No estudo protocolado abordo várias questões pertinentes, que certamente interessam ao DER, tais como: infraestrutura cicloviária (incluindo sinalização), campanhas educativas, limite de velocidade e fiscalização feita com bicicleta. Os temas desenvolvidos no trabalho estão totalmente relacionados às competências regimentais e aos objetivos estratégicos do DER-DF, incluindo construção, conservação e fiscalização de vias, segurança e educação no trânsito.

Aliás, três slides da apresentação montada são dedicados à L4 – via administrada pelo DER –, por onde passa fluxo razoável de ciclistas, sujeitos à insegurança e ao desrespeito. E onde foi fincada uma bicicleta branca (“ghost bike”) em homenagem a ciclista morto. Muitas fotos e vídeos gravados no DVD são de vias administradas pelo DER-DF: EPTG (DF-085), EPIG (DF-011), EPVP (DF-079), EPIA (DF-003), EPGU (DF-051), EPAR (DF-047), pontes sobre o lago Paranoá.

  Situação da L4 Norte, apresentada no estudo

Entre as diversas propostas apresentadas estão a interligação dos caminhos, com infraestrutura segura aos ciclistas nas rodovias e pontes de competência do DER. A EPTG é um caso emblemático de omissão governamental no quesito segurança (tanto a ciclistas quanto a pedestres). Outra proposta refere-se à disponibilização de informações, no portal do GDF, úteis a quem deseja usar bicicleta. O estudo revela a ausência de informações aos ciclistas no DF e traz bons exemplos de cidades que disponibilizam informações na internet.

    Necessidade de disponibilizar informações sobre mobilidade por bicicleta

Infelizmente, o DVD e a documentação entregues devem ter sido bem guardados numa gaveta, sem ter proporcionado a sensibilização dos gestores públicos quanto à necessidade de impulsionar a mobilidade saudável.

Uma pena que o atual governo simplesmente ignore as sugestões enviadas por quem vivencia a realidade e estuda o tema. É lamentável que, ano após ano, o quadro de imobilidade avance. Por falar em imobilidade, também elaborei no ano passado um dossiê sobre a situação calamitosa a pedestres e ciclistas na EPTG, via administrada pelo DER-DF. O trabalho intitulado “EPTG (“Linha Verde”): 470 motivos para investir em calçadas e ciclovias” foi protocolado em diversos órgãos do GDF e aguarda providências até hoje.**

Passado um ano do “novo” governo, continuam os problemas: persistem a falta de continuidade, o desconforto e a insegurança a quem pedala e caminha pela cidade. Como consequência, vejo pouquíssimos ciclistas no trajeto diário, mesmo com ciclovia ao longo de quase todo o caminho. Aliás, neste mês muitas vezes pedalo e não vejo sequer um ciclista no trajeto. Culpa não só das pancadas de chuva, mas também dos equívocos e da omissão governamental na área de mobilidade urbana.

 

* Além do protocolo ao próprio governador, o trabalho com farto conteúdo em DVD também foi protocolado nos seguintes órgãos: Secretaria de Mobilidade; Direção-Geral do Detran; Direção-Geral do DER; MPDF (Promotoria de Defesa da Ordem Urbanística); Presidência da Comissão de Fiscalização, Governança, Transparência e Controle da CLDF.

** O dossiê sobre a EPTG foi publicado no portal Mobilize: http://www.mobilize.org.br/noticias/8116/470-razoes-para-investir-em-calcadas-e-ciclovias-na-linha-verde-do-df.html

– Documento impresso encaminhado a diversos órgãos públicos em junho de 2015: