Livros e Filmes sobre Mobilidade

Nesta seção a proposta é trazer algumas referências para quem quer se aprofundar em mobilidade urbana e qualidade de vida. Há muitos livros, documentários e filmes em geral que abordam o tema e nos fazem refletir. Bons autores brasileiros e do exterior exploram o assunto. A lista abaixo tem também alguns manuais com questões práticas de planejamento e infraestrutura urbana.

Desde Jane Jacobs, nos anos 1960, o planejamento urbano voltado ao automóvel tem sido criticado e combatido. Cidades como Amsterdã e Copenhague reverteram a centralidade do carro, abriram espaço para pedestres e ciclistas e hoje colhem os frutos. Na capital holandesa a bicicleta responde por incríveis 40% dos deslocamentos para o trabalho.   

Para aguçar a curiosidade, fica um parágrafo da introdução do livro Morte e Vida de Grandes Cidades, referência n° 1 da lista em razão da importância histórica e do ativismo da Jane Jacobs:

“As necessidades dos automóveis são mais facilmente compreendidas e satisfeitas do que as complexas necessidades das cidades, e um número crescente de urbanistas e projetistas acabou acreditando que, se conseguirem solucionar os problemas de trânsito, terão solucionado o maior problema das cidades. As cidades apresentam preocupações econômicas e sociais muito mais complicadas do que o trânsito de automóveis. Como saber que solução dar ao trânsito antes de saber como funciona a própria cidade e de que mais ela necessita nas ruas? É impossível.” (pág. 6)

A ideia é rechear esta seção gradativamente com mais sugestões de livros e vídeos sobre o tema. Caso tenha indicações, mande-nos por e-mail: brasiliaparapessoas@gmail.com.

LIVROS:

– Morte e Vida de Grandes Cidades – Jane Jacobs

A 1ª edição do livro foi lançada em 1961 e continua sendo uma grande referência para quem estuda as cidades. Jane Jacobs foi uma ativista pioneira ao criticar o modelo de cidade baseado no automóvel. A autora escreveu com base nas observações ao caminhar por Nova York. Defensora da diversidade e do caminhar nas cidades, com estilo próprio de escrita (pode-se dizer, literário), Jane descreve o balé na calçada.

Um fenômeno hoje bem conhecido e aceito foi descrito por ela: os ‘olhos nas ruas’, ou seja, a segurança promovida pelo fluxo de pessoas a pé e pela vizinhança que se conhece e ajuda na vigilância informal. Em suma, a segurança nas ruas não se dá apenas com policiamento, mas especialmente pelo movimento e pelos laços entre a comunidade.

O livro e a história de vida de Jane Jacobs são inspiradores. Nos anos 1960, ao defender um bairro de Nova York contra a construção de uma via expressa elevada, chegou a ser presa. A defesa de uma cidade caminhável inspirou as caminhadas Jane’s Walk, que ocorrem em todo o mundo, inclusive no Brasil, com o objetivo de observar a cidade de forma crítica, na visão do pedestre. 

– Cidades para Pessoas – Jan Gehl

O arquiteto dinamarquês é uma grande referência e desenvolve projetos em várias cidades pelo mundo. O livro é bem ilustrado e apresenta conceitos e exemplos relevantes na busca de uma cidade segura e humanizada.

“A visão de cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis tornou-se um desejo universal e urgente. Os quatro objetivos-chave – cidades com vitalidade, segurança, sustentabilidade e saúde – podem ser imensamente reforçados pelo aumento da preocupação com pedestres, ciclistas e com a vida na cidade em geral.” (pág. 6)

“Um maior número de vias convida ao tráfego de automóveis. Melhores condições para os ciclistas convidam mais pessoas a pedalar, mas ao melhorar as condições para os pedestres, não só reforçamos a circulação a pé, mas também – e mais importante – reforçamos a vida na cidade.” (pág. 19)

– Cidade caminhável – Jeff Speck

O autor apresenta dados e analisa a caminhabilidade com base em cidades dos Estados Unidos. Com bons argumentos e evidências, Speck destrincha dez passos em busca de uma cidade caminhável.

“Enquanto a maioria das cidades americanas abria mais vias expressas, Portland investiu no transporte coletivo e no ciclismo. Enquanto a maior parte das cidades alargava suas vias para acelerar o tráfego, Portland implantou um programa de ‘skinny streets’ (ruas magrinhas). Enquanto a maior parte das cidades acumulava terras para expansão urbana futura, Portland instituiu um limite para o crescimento urbano. Esses esforços e outros similares, ao longo de décadas, – um piscar de olhos nos tempos de um urbanista –, mudaram a forma como os habitantes vivem.” (pág. 36)

– Acupuntura urbana – Jaime Lerner

Livro do arquiteto e urbanista Jaime Lerner, que foi prefeito de Curitiba por três mandatos e governador do Paraná por duas vezes. Curto e de fácil leitura, os capítulos abordam diferentes possibilidades de renovação urbana: valorização do cinema de rua; o conhecido exemplo da eliminação de vias elevadas e recuperação de rio em Seul; iluminação, música e cheiros da cidade; entre outras.

Diria que o livro apresenta um repertório eclético e criativo sobre os elementos que podem ajudar a recuperar a cidade.

“Acredito que algumas ‘magias’ da medicina podem, e devem, ser aplicadas às cidades, pois muitas delas estão doentes, algumas quase em estado terminal. Assim como a medicina necessita da interação entre médico e paciente, em urbanismo também é preciso fazer a cidade reagir. Cutucar uma área de maneira que ela possa ajudar a curar, melhorar criar reações positivas e em cadeia. É indispensável intervir para revitalizar, fazer o organismo trabalhar de outra maneira.” (pág. 7)

MANUAIS E OUTRAS PUBLICAÇÕES:

– Guia Global de Desenho de Ruas

Um grande guia (em qualidade e em quantidade de páginas) da NACTO (associação dos Estados Unidos) com versão em português, disponível em formato impresso e em pdf gratuito. Serve de inspiração para projetos de humanização e segurança no trânsito. Deveria ser consultado por todo gestor público que lida com mobilidade urbana.

“As cidades têm de tomar uma decisão a cada vez que investem em transportes: atender aos carros, criando redes expandidas de vias expressas e isolando centros urbanos essenciais, ou crescer sustentavelmente, promovendo bairros mais densos e compactos, com ótimas opções de transporte e acesso. Essas são decisões públicas que afetam a cidade e até mesmo o mundo inteiro, por conta de seu impacto no clima. Os altos volumes de tráfego de automóveis e a dependência de veículos particulares motorizados para transporte urbano geram grandes custos para a sociedade.” (pág. XIX)

– Andar a pé eu vou: caminhos para a defesa da causa no Brasil

A publicação de 2020 é bem completa e ilustrada, traz estratégias de atuação e reúne ações em defesa dos pedestres: iniciativas locais e campanhas em âmbito nacional, como Calçada Cilada e Calçadas do Brasil.

Leitura obrigatória para quem se interessa pelo tema e, acima de tudo, para quem tem perfil ativista e quer reforçar a luta por cidades caminháveis. Este livro e outras publicações sobre o tema estão disponíveis na página do Como Anda:

– Guia de Boas Práticas – Estacionamento de Bicicletas

A publicação da União de Ciclistas do Brasil (UCB) contém fotos e detalhes técnicos para instalar vagas adequadas para os ciclistas. Quem pedala no dia a dia sabe a importância de espaços com suportes adequados, seguros e, de preferência, gratuitos e cobertos.

O guia pode ser obtido gratuitamente na página da UCB: https://uniaodeciclistas.org.br/biblioteca/guia-de-boas-praticas-para-instalacao-de-estacionamento-de-bicicletas/

– O Brasil que pedala

O livro escrito a muitas mãos revela a rica cultura da bicicleta em cidades pequenas de norte a sul do país, incluindo Afuá (PA), Cáceres (MT), Pedro Leopoldo (MG), Pomerode (SC) e Tamandaré (PE).  Leitura obrigatória para quem quer saber mais sobre a diversidade no país.

“Este livro foi concebido para trazer à tona essa realidade desconhecida para muitos brasileiros e para contrastá-la com a grave situação das grandes cidades, oferecendo-lhes uma alternativa possível, real. Também pretendemos prestar uma homenagem às cidades menores, usuárias da bicicleta, e a seus habitantes, e publicamente declarar o valor da cultura que preservam.” (pág. 11)

– Caderno de referência para elaboração de Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades

A publicação de 2007, do antigo Ministério das Cidades, é uma referência interessante sobre infraestrutura cicloviária. Uma publicação que certamente merece atualização com base na situação atual das cidades brasileiras. 

– Vida e Morte das Rodovias Urbanas

A publicação conjunta entre ITDP e Embarq contextualiza os impactos negativos de vias expressas que cortam as cidades e apresenta exemplos concretos – em diferentes cidades do mundo – de rodovias que foram demolidas e substituídas por avenidas arborizadas ou parques.

“Nos últimos cinquenta anos, milhares de quilômetros de rodovias urbanas foram construídos no mundo inteiro. Muitos estão agora próximos à obsolescência funcional. Isto tem levado muitas cidades, não só nos Estados Unidos a questionarem o papel das grandes rodovias em áreas urbanas e a perguntarem se elas merecem mais investimento ou se devem ser removidas. Hoje em dia, algumas das mesmas rodovias urbanas que foram construídas naquele período estão sendo demolidas, enterradas a um alto custo ou transformadas em boulevards.” (pág. 12)

FILMES:

– Como os holandeses construíram suas ciclovias

A Holanda é uma grande referência em mobilidade urbana e segurança no trânsito, com um percentual invejável de pessoas que usam a bicicleta como meio de transporte. Mas nem sempre foi assim e, no passado, as cidades holandesas também sucumbiram à ascensão do automóvel.

O documentário (duração de 6’30’’) mostra como os holandeses retomaram o rumo após a crise do petróleo e graças à mobilização da sociedade contras as mortes no trânsito.

– Pateta no Trânsito

Clássico da Disney que ajuda muito a refletir sobre o trânsito nas cidades. Lançado em 1950, continua bem atual. O vídeo com duração de 6 minutos mostra o Pateta em duas versões: o calmo ‘Mr. Walker’, pedestre, e o impaciente ‘Mr. Wheeler’, que se transforma ao assumir o volante.

– A Ilha

Uma animação brasileira muito interessante que nos faz refletir sobre o ambiente urbano. Vias expressas dificultam muito o percurso de pedestres e ciclistas. O vídeo (duração de 8 minutos) mostra o sufoco de um pedestre ilhado no mar de carros. Para quem é de Brasília, o Eixão certamente vem à mente.

– Entre Rios

Documentário sobre a urbanização de São Paulo. Com duração de 25 minutos, o vídeo revela como a cidade avançou sobre os rios (deu as costas para eles), que foram canalizados e/ou enterrados. O Plano de Avenidas – elaborado na década de 30 e executado por Prestes Maia –também teve grande responsabilidade na deterioração dos rios. As principais avenidas de São Paulo foram construídas sobre rios e córregos.  

Esse processo predatório de urbanização se resume na frase do documentário: “O espaço das águas se transformou no espaço dos carros”.

– Luto em Luta

Filme com duração de 1h10 que nos faz refletir sobre (in)segurança no trânsito. Cenas de desrespeito no trânsito, entrevista com estudiosos do tema e o drama vivido por amigos e parentes de pessoas que foram brutalmente assassinadas nas ruas.

O documentário é dividido em três partes: barbárie, luto e luta. A frase na cena inicial sintetiza a mensagem: “Não espere perder um amigo para mudar a sua atitude no trânsito.”

– Elo Perdido – o Brasil que pedala

O documentário da Renata Falzoni, com duração de 30 minutos, mostra a rica cultura da bicicleta pelo país, que resiste apesar do grande espaço urbano voltado ao transporte automotivo. Santos (SP), Joinville (SC), Mauá (SP), Rio de Janeiro, Ilha de Paquetá (RJ), São Paulo e Afuá (PA) estão representadas no filme.

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