Texto e foto: Uirá Lourenço
O dia 30 de agosto começou bem triste, afinal as máquinas do governo aceleraram logo cedo. O objetivo da pressa: derrubar árvores frondosas de diversas espécies.
Uma devastação covarde, afinal o projeto que vem de governos anteriores é antiquado, voltado à fluidez automotiva, e tem um impacto inicial gigantesco: derrubada de quase 800 árvores (784 para ser mais preciso). Como agravante, o caso está judicializado: o Ministério Público (MPDFT) entrou com ação civil pública e pediu a suspensão das obras em razão de várias irregularidades.
Mas eis que o governo, numa agilidade incrível que não se vê para outras demandas – por exemplo, reforma de calçadas, conexão de ciclovias e melhorias para os usuários de ônibus –, começou a devastação da rica área verde na entrada do bairro Sudoeste. Além da diversidade de árvores, chama atenção a riqueza de aves. Pica-paus, corujas, tucanos e araras, entre outras.
Devo registrar a parte positiva. Em meio a tanta truculência e retrocesso ambiental, ficam algumas lições. Um momento que jamais vou esquecer, que gravei hoje. O relato da Cleide, moradora do Sudoeste que conheci recentemente por conta da mobilização contra o projeto devastador. O choro e o abraço na árvore foram um símbolo forte de resistência. Ato simbólico e de grande emoção que presenciei e renovou minhas energias.
Ainda como registro positivo, após a sangria, a derrubada covarde, veio enfim a decisão liminar do juiz de suspender essas obras, paralisar a devastação.
Fica o agradecimento aos moradores e às pessoas que estão nessa luta há algum tempo. Criaram associação, lançaram abaixo-assinado, foram pra rua panfletar e sensibilizar que esse modelo de cidade – pensado apenas no automóvel – já não cabe mais.
Minha homenagem às mulheres de bem, guerreiras que vêm lutando contra a devastação e construção do muro rodoviário que cortaria o bairro ao meio, além dos grandes danos ao Parque da Cidade. Adriana, Cleide, Gillene, Giselle, Rosana e Rosângela, para nomear algumas que encontrei nessa jornada.
A luta por uma cidade humanizada é árdua, mas vale a pena. Aliás, sonhar vale a pena!
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VÍDEOS:
Nos vídeos a seguir, os relatos de três moradoras guerreiras do bairro Sudoeste: Cleide, Rosângela e Giselle.
Parabéns pela matéria, Uirá! Conseguiu externar a nossa luta naquele dia que ficará marcado em nossas vidas 🥲🥲🥲
Pessoas como você é que fazem a diferença, sempre na luta por melhores condições modais para as pessoas que nasceram aqui e escolheram essa cidade para criarem seus filhos, além daquelas que chegaram por opção e abraçaram o projeto de viverem em uma cidade parque, aquela tão idealizada. Apesar de tudo, é muito gratificante fazer parte desse movimento, pois tenho a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas, que lutam pelo que acreditam e isso tranquiliza o meu coração, pois vejo que não estou sozinha. Obrigada! Fique em paz! 🍀
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Tamos juntos, Gillene. O movimento vale também para conhecer outras pessoas que sonham e arregaçam as mangas. Fiquemos atentos aos tratores governamentais que avançam e tentam converter a Cidade Parque em Cidade dos Trevos Rodoviários.
Obrigado pela mensagem. Abração!
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Os justos não podem se calar, muito bom!
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É preciso ter voz. Não podemos jogar a toalha.
A falta de diálogo, a falta de abertura para ouvir – por parte do governo – é impressionante. Triste e simbólica a ausência do GDF na audiência pública promovida na CLDF ontem (2/9) para debater o trevo rodoviário na EPIG. A secretaria de obras disse que o assunto está concluído e se negou a participar.
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