Tão perto, tão longe: Asa Norte-Noroeste

Texto e fotos: Uirá Lourenço

Ontem fui da Asa Norte até o Noroeste. Fui com meu filho de bicicleta, pois ele ia encontrar uns amigos. Os bairros ficam próximos, a uma distância perfeitamente caminhável e pedalável. Mas as barreiras são consideráveis.

Na ida, à tarde, pegamos um atalho. Passamos por dentro do parque Burle Marx. Trajeto curto (2,3 km), mas bem deserto e com trechos de areia.

Na volta, à noite, decidimos não passar por dentro do parque em razão da escuridão e da insegurança. Pegamos a ciclovia na avenida principal do Noroeste e demos a volta pelo autódromo. Fica um breu na ciclovia (a iluminação se limita à pista dos motorizados) e só vimos dois ciclistas passando, além de pessoas fazendo caminhada. Ou seja, ciclovia de lazer.

Ciclovia do Noroeste sem iluminação.

Ao longo da ciclovia, anúncios de apartamentos à venda. Faixa de preço entre R$ 490 mil (1 quarto) e R$ 10,2 milhões (cobertura). O bairro é novo, tido como sustentável. Lembro que, no período de lançamento, foi anunciado como o 1º bairro ecológico do país. Mas curiosamente os moradores têm o carro como praticamente a única opção de deslocamento, a mais poluente e com mais impactos negativos à cidade. Segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD), 96% dos deslocamentos para o trabalho são feitos por automóvel.1   

No início do bairro, a ciclovia termina sem aviso prévio. O jeito é continuar pelo ‘caminho de rato’, gramado estreito na lateral da via com marcação bem evidente por onde pedestres e ciclistas passam. Margeamos o autódromo e chegamos à ciclovia da W4 Norte. Breu total na ciclovia, sem outros ciclistas.

‘Caminho de rato’ na saída do Noroeste.

Um morador do Noroeste que trabalhe no Palácio do Buriti (a 1,8 km de distância da entrada do bairro) ou um jovem que estude no CEUB (a 2 km de distância da entrada do bairro) muito provavelmente usa o carro no trajeto diário.2 Fico pensando se a situação não poderia ser diferente caso houvesse boa infraestrutura para a mobilidade ativa (calçadas, ciclovias e locais seguros de travessia) e linhas regulares de ônibus (inclusive ônibus executivo, com ar-condicionado) para os moradores.

Mas estamos em Brasília e certamente já tem viadutos previstos na região, com o objetivo de melhor escoar a grande frota automotiva.  

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1 Dados da PDAD/2021, realizada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).

2 O mapa mostra o traçado com as distâncias do Noroeste à Asa Norte, ao Eixo Monumental e ao CEUB, mencionados no texto. Eis o link do mapa: https://www.google.com/maps/d/edit?mid=1PfkgGNrLPCOUYHsNdkGaHXHsWaAMzKY&usp=sharing

VÍDEO

O vídeo mostra o acesso ao bairro Noroeste, sem infraestrutura para pedestres e ciclistas.

4 comentários sobre “Tão perto, tão longe: Asa Norte-Noroeste

  1. Muito bom texto.
    O pior cego é quem não quer ver.
    E é isso que acontece na cabeça das “autoridades” no DF, que têm os meios institucionais pra reduzir esse carrocentrismo egoísta

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    • Carrocentrismo cada vez mais forte, veja os viadutos por todo lado (inclusive um na saída do bairro Noroeste). Seria muito fácil e barato fazer conexões cicloviárias e incentivar o uso da bicicleta em trechos mais curtos. Do Noroeste para o Eixo Monumental e para a Asa Norte a distância é facilmente pedalável e, com melhorias na infraestrutura e campanhas, daria para impulsionar a migração do automóvel para a mobilidade ativa e saudável.

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  2. Novas imagens e texto do amigo Uirá Lourenço. Pedal resiliente é o que se faz na cidade que adora carro e cujo governo desconhece a escala humana. Onde foi que os urbanistas erraram e que os políticos surfam? Afinal, obras viárias arrecadam milhões… e convidam carros e mais carros, sem a devida priorização do transporte público. Em especial, os problemas se acumulam no transporte público. Os ônibus passaram a ser o alvo preferido dos assaltos: 3 ônibus a cada 2 dias são assaltados no DF gerando medo e sofrimento. Samambaia-DF teve mais de 90 assaltos a passageiros de ônibus neste ano.

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    • Dados alarmantes sobre assaltos a ônibus. Cadê as autoridades para coibir? Infelizmente o povão que sacoleja nos ônibus (muitas vezes, velhos e superlotados) não recebem a devida atenção dos nossos gestores públicos. Se os engravatados que planejam e executam obras pela cidade andassem de ônibus e metrô a realidade poderia ser diferente.

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