Cidade desumana: árvores e pessoas mortas

Texto e fotos: Uirá Lourenço

Ontem foi um dia em que pedalei mais que o normal. À tarde tinha consulta no final da Asa Sul e aproveitei para ver as obras de ‘mobilidade’ no Setor Policial. O canteiro central já está peladinho, infelizmente. Muitas belas paineiras, algumas bem frondosas, foram retiradas.

Canteiro pelado, sem sombra, no Setor Policial.

A bela paineira florida não existe mais. Fotos de 1/5/2022 (esquerda) e de 18/10/2023 (direita).

O termômetro marcava 32° C e, sem a sombra das árvores, o desconforto térmico era grande. Que progresso é esse?!

Na volta pra casa, no fim do dia, o caos era grande no Eixão. Um mar de carros. Alguns ciclistas disputavam espaço com os motoristas. Prefiro seguir caminho pelo canteiro do Eixinho. Apesar das irregularidades no gramado e dos obstáculos (na Asa Sul há estruturas de concreto que ocupam todo o canteiro), fico isolado do fluxo motorizado intenso.

Ciclistas entre os carros no Eixão Sul.

Na altura do Conjunto Nacional, encontro o amigo Graco, também de bicicleta. O caminhar e o pedalar permitem esses encontros casuais. Papeamos um pouco, parei para hidratar e ouvir a boa música da artista que tocava na calçada.

Retomo o pedal pra casa e logo no início do Eixão Norte noto algo diferente: longa fila de carros e bloqueio da polícia. Imaginei ter ocorrido atropelamento e resolvi me aproximar. A suspeita se confirmou, uma cena chocante: o corpo estendido no chão, coberto com lençol branco, a mochila ao lado. Aguardava o IML para ser retirado.

Fiz o registro em vídeo e fiquei bem impactado com a cena. Conversei com um dos policiais no local. Ele achava que a vítima era ‘morador de rua’. Quando comentei que o Eixão é bem hostil com pedestres e ciclistas, o policial disse que as pessoas deviam usar a passagem subterrânea.

Pedestre morto no Eixão Norte.

Velho dilema de quem atravessa o Eixão: arriscar-se a assalto por baixo ou se arriscar entre os carros velozes por cima. A velocidade de 80 km/h ou mais (longe dos radares) desumaniza, é incompatível com a vida na cidade.

Fico imaginando o que o governador e as autoridades de trânsito pensam sobre os atropelamentos no Eixão da Morte. Apenas mais um que ‘morreu na contramão, atrapalhando o tráfego’?

4 comentários sobre “Cidade desumana: árvores e pessoas mortas

    • Lamentável e revoltante, Silvana! Uma cidade com tanto potencial, mas não aproveitado.
      Sempre a busca insana por fluidez máxima, que traz junto poluição, estresse, sedentarismo e mau uso do espaço urbano.

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    • Comte, o governador e as autoridades em geral precisam caminhar e usar o transporte coletivo. Acho que só assim para termos mais sensibilidade e algum avanço. Enquanto caminhar e usar ônibus forem apenas para os desfavorecidos, para os que ainda não adquiriram o carro próprio, dificilmente teremos avanço.

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