Agentes ambientais nas cidades

Texto e fotos: Uirá Lourenço

Bicicleta adaptada para o transporte de material reciclável em Brasília.

Em todo o país dois temas se destacam na administração das cidades: a gestão dos resíduos sólidos e a mobilidade. O estado de imobilidade causado pela crescente frota de automóveis é tão desafiador quanto a existência de lixões.

Ao andar pelas ruas percebe-se um personagem urbano que sintetiza a inter-relação entre mobilidade e resíduos. Costumo chamar de ciclocatadores os agentes ambientais que garimpam diariamente as lixeiras em busca de material reciclável. Graças a eles, uma quantidade significativa de resíduos deixa de ir para os rios e lixões e alimenta a cadeia produtiva da reciclagem.

Os ciclocatadores – homens e mulheres – estão presentes em cidades de todo o país em cargueiras ou bicicletas comuns, com muitos sacos equilibrados. Em Brasília, um deles adaptou uma cargueira com reboque e consegue transportar 80 kg de recicláveis.  Vale destacar que muitos outros agentes ambientais percorrem as cidades a pé ou empurrando carrinhos de compra ou outros acessórios para carregar os recicláveis coletados.

Mercado da reciclagem é impulsionado pela atuação diária de homens e mulheres com bicicletas.

A conexão entre os temas também se nota na legislação. Temos política nacional de resíduos sólidos (Lei Federal n° 12.305/2010) e de mobilidade urbana (Lei Federal n° 12.587/2012). Ambas são consideradas avançadas e garantem a inclusão social do catador e a priorização do transporte ativo. Mas são grandes os desafios para pôr as leis em prática.

Vale registrar o bom exemplo de São Paulo. Existem triciclos da prefeitura utilizados na coleta de resíduos. E se observa a pintura de reciclovias em ruas e ciclovias de São Paulo: sinalização para destacar a presença de catadores. Neste caso, o ativismo cumpre seu papel, com destaque para o Pimp my Carroça, que busca dar maior visibilidade aos catadores. Em Maceió (Alagoas), no início de 2017, catadores de recicláveis receberam triciclos para auxiliar o trabalho (confira a notícia).

Em São Paulo, triciclo da prefeitura e pintura da reciclovia.

Atitudes simples podem contribuir bastante com a qualidade de vida: separar os resíduos de forma adequada e, quando estiver ao volante, manter distância segura e reduzir a velocidade ao passar por um ciclocatador (ou por qualquer pedestre e ciclista). Mesmo sem coleta seletiva formal prestada pelo governo local (estima-se que mais de 80% da população não tenha acesso à coleta seletiva), pode-se fazer a separação dos recicláveis em casa e entregar a um dos muitos ciclocatadores. E a tecnologia favorece boas atitudes: o aplicativo Cataki conecta catadores a pessoas e empresas que desejam destinar corretamente os recicláveis.

 

SAIBA MAIS:

– Documentário Ciclocidades

No documentário sobre o uso da bicicleta nas cidades pode-se conhecer a rotina de alguns ciclocatadores de Brasília.

 

– Álbum – Agentes Ambientais

Seleção de fotos de ciclocatadores nas cidades de norte a sul do Brasil.

 

– Pimp my carroça – http://pimpmycarroca.com/

A iniciativa tem por objetivo dar visibilidade aos catadores de recicláveis.

 

Um comentário sobre “Agentes ambientais nas cidades

  1. Em pesquisa na internet, notei que, além de Maceió e São Paulo (mencionadas no texto), outras cidades incluem triciclos adaptados no serviço de coleta seletiva prestado por catadores.
    Você conhece cidades que utilizam triciclos na coleta seletiva? Como o sistema funciona?

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