Junio Silva e Letícia Amaral
Para quem mora fora do Distrito Federal, o uso do Passe Livre Estudantil é um tanto mais complicado. Como não há integração do uso do cartão entre o estado de Goiás e o Distrito Federal, estudantes moradores do Entorno têm de se deslocar até os locais onde o transporte público passa a aceitar os cartões antes de embarcarem.
É o caso de Ana Luiza Batista da Silva, estudante da Universidade de Brasília e moradora do Novo Gama (GO). Para chegar à universidade, Ana Luiza deve pagar em dinheiro a passagem para o Gama ou Santa Maria e aí, sim, usar o Passe Livre para ir até a estação do BRT, de onde embarca em mais um ônibus para chegar à Rodoviária do Plano Piloto e embarcar em outro coletivo que se dirige até a universidade.
“Ao todo são oito ônibus por dia para ir até a UnB. Eu uso passe em seis ônibus e nos outros dois, não”, explica a estudante. Para fazer todo esse caminho e evitar atrasos, Ana Luiza deve acordar com duas horas de antecedência.
Arte: Junio Silva.
Difícil com o passe, pior sem ele. “Pegando ônibus direto de onde moro para a Rodoviária do Plano Piloto, eu pagaria R$ 19,00 por dia”, afirma Ana Luiza. “Indo pelo BRT seriam R$ 14,00 diários*”, diz. Em fevereiro de 2019, as passagens de ônibus do Entorno foram reajustadas em 5,231% e os moradores do Novo Gama passaram a pagar R$ 6,40 só para chegar à Brasília. A passagem mais cara registrada é a de Águas Lindas de Goiás para Brasília, custando R$ 7,05.
O Secretário de Mobilidade do Distrito Federal, Valter Casimiro, afirma que não há previsão para que a integração tarifária aconteça. “A integração do sistema é um pouco mais complicada porque você tem um outro órgão fazendo a regulação do transporte interestadual, que é o governo federal, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)”, declara. ” A legislação prevê que os estudantes aqui do DF, apenas, tenham o direito ao passe estudantil”, lembra o secretário.
De acordo com a Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), são 110 mil pessoas se deslocando entre o Distrito Federal e o Entorno diariamente. Por mês são 3 milhões de pessoas passando pelas catracas e por ano, 40 milhões.

Tabela de passagens do Entorno do Distrito Federal.
Enquanto isso, estudantes que moram na região do Entorno de Brasília e que estudam dentro do Distrito Federal realizam deslocamentos complicados para chegar ao seu destino. A estudante do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos (Uniceplac) Keisy Stella, moradora do Jardim Céu Azul, tem que andar cerca de um quilômetro até atravessar a DF-20 que separa os dois territórios do Distrito Federal e Goiás. “Eu vou andando da minha casa até a DF-20 para ter acesso aos ônibus do DF, à noite eu volto correndo”, declara a estudante, que afirma já ter sofrido assédio no caminho entre a parada de ônibus e a casa.

Keisy Stella, estudante e moradora do Entorno do Distrito Federal. Foto: Junio Silva.
Sobre a ideia de integração, o clima é de descrença para os estudantes. “Eu ouvi falar sobre, mas foi muito superficial, achei que era até ‘fake news’”, afirma Keisy Stella. A estudante da Universidade de Brasília Ana Clara Souza é moradora de Valparaíso I e também não acredita que a tão sonhada integração do transporte aconteça tão cedo. “Essa promessa da integração é um papo que rola há muito tempo, a gente espera, mas eu acho que se for acontecer não vai ser agora, ainda mais com esse papo de cortarem o passe livre”, declara.

Ana Clara, estudante e moradora do Entorno do Distrito Federal. Foto: Junio Silva.
*Valor calculado antes do aumento das passagens no Distrito Federal em 2020.

Sou de Luziânia-GO. Estudo na UnB desde 2016 e meu maior sonho é ter o passe estudantil liberado para os ônibus do entorno. A passagem atual do ônibus de Luziânia para Brasília é de 9,50. Sendo que preciso pegar de 4 a 6 ônibus por dia para ir e voltar da UnB. Mesmo para quem trabalha e recebe salário, é uma despesa muito alta.
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