Texto: Maria Lúcia | Fotos: Gustavo Santos
O objetivo da minha visita à Rodoviária do Plano Piloto foi mostrar um pouco dos obstáculos e barreiras que pessoas com deficiência (PcD) e mobilidade reduzida enfrentam diariamente para usar o transporte público coletivo na nossa cidade.
Em 2019, segundo a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), cerca de 700 mil pessoas passaram diariamente pela Rodoviária. Neste contingente estão consideradas pessoas das Regiões Administrativas do DF e do Entorno.
Estão incluídas as pessoas com os diversos tipos de deficiência, inclusive física e com mobilidade reduzida. Embora este quantitativo não esteja dimensionado nas estatísticas, ele não pode ser desconsiderado na construção de um espaço inclusivo com acessibilidade para todos.
A visita constatou alguns obstáculos existentes e outros ainda devem ser identificados e corrigidos de acordo com os normativos vigentes. A seguir destaco os roteiros que mais chamaram minha atenção no curto espaço de tempo em que estive lá presente.
ROTEIRO DA VISITA
- PLATAFORMA SUPERIOR – ESTACIONAMENTO
Decidi estacionar o veículo na vaga especial, localizada na plataforma superior, no estacionamento do lado sul, voltado para a Esplanada dos Ministérios.
Ao sair do veículo já verifiquei que não existe meio fio rebaixado ao longo da calçada em frente à faixa de pedestre, obrigando o cadeirante, a contornar pela via pública, por onde circulam os veículos (fotos 1 e 2).
Foto 1: Plataforma Superior Rodoviária – estacionamento do lado sul, em frente a Esplanada dos Ministérios
Foto 2- Plataforma superior da rodoviária – estacionamento do lado sul, em frente a Esplanada dos Ministérios
Ao longo da calçada, paralela ao lado sul da plataforma superior da rodoviária, não tem meios fios rebaixados para fazer a travessia, além de haver postes de iluminação e de sinalização fixados no meio da calçada, impedindo a passagem de uma cadeira de rodas (foto 3).
Ainda na plataforma superior pude observar a má conservação do meio fio rebaixado da calçada que dá acesso ao Conjunto Nacional, situado na faixa de pedestre do semáforo (foto 4).
Foto 3- Plataforma superior da rodoviária – calçada do outro lado da via, em frente ao lado sul da rodoviária
Foto 4- meio fio rebaixado na faixa de pedestre com semáforo que dá acesso à calçada do lado do Conjunto Nacional
- ELEVADOR
Fiz uso do elevador para ter acesso à plataforma inferior, onde é feito o embarque e o desembarque dos ônibus. Felizmente estava funcionando e pude chegar ao destino.
Ressalto a importância de se manter ao menos parte dos elevadores em operação, caso contrário é impossível o acesso de uma PcD à plataforma inferior.
- PLATAFORMA INFERIOR
Dividi o percurso em 4 direções:
3.1. Local de embarque e desembarque dos ônibus que fazem linhas para as Regiões Administrativas do DF (voltado para a Esplanada dos Ministérios – Plataforma A).
Neste caso pude observar que existem locais (baias) para os ônibus estacionarem com existência de calçadas entre eles. Assim, uma PcD pode ter melhor acesso à rampa móvel do ônibus (quando houver ou estiver funcionando) sem se expor entre os ônibus estacionados ou até mesmo contar com ajuda de pessoas no local (foto 5).
Foto 5- calçada que separa os ônibus no embarque/desembarque das linhas das cidades administrativas
3.2. Embarque e desembarque dos ônibus que fazem linhas para as cidades de Goiás (Entorno), voltado para a Torre de TV (Plataforma D).
Neste local presenciei o difícil e inseguro embarque de um cadeirante. No caso, não existem calçadas entre os ônibus estacionados (baias) para realizar o embarque e desembarque com mais segurança, nem meio fio rebaixado no local onde os ônibus estacionam.
Além disso a rampa móvel do ônibus não estava funcionando ou não havia. Daí o embarque ter sido feito com a ajuda das pessoas que estavam no local (foto 6).
Foto 6- cadeirante embarcando em ônibus sem calçada de proteção e sem rampa para embarque
3.3. Embarque e desembarque do BRT, voltado para o lado da Torre de TV, Plataforma B.
Neste local existem catracas para entrada e portões para uma PcD passar. Não verifiquei as condições das rampas móveis dos veículos.
- Acessibilidade no perímetro em volta da Rodoviária. Neste percurso priorizei a via que dá acesso ao Eixo Monumental, utilizada para circulação dos ônibus que chegam à rodoviária. Foram observadas diferentes situações:
- Locais com faixas de pedestres praticamente apagadas, com existência de meio fio da calçada rebaixado, porém sem semáforo, o que não dá segurança para uma travessia (foto 7).
Este mesmo problema também ocorre no canto da rodoviária que dá acesso ao canteiro central da Esplanada, próximo à ciclovia (foto 8).
- Locais com faixa de pedestres, porém sem calçadas com rebaixamento de meio fio e sem semáforo.
Ressalto que esta via é muito larga e a inexistência de semáforo e de acessibilidade torna-se praticamente impossível uma PcD ou com mobilidade reduzida fazer a travessia (foto 9).
Foto 7- Plataforma inferior da rodoviária, via que acessa o Eixo Monumental, com meio fio rebaixado e sem semáforo
Foto 8 – Plataforma inferior da rodoviária, via que acessa o canteiro da Esplanada, com meio fio rebaixado e sem semáforo
Foto 9- Plataforma inferior da rodoviária- via que acessa o Eixo Monumental, sem meio fio rebaixado e sem semáforo
Concluindo, a Rodoviária do Plano Piloto possui barreiras que limitam e muitas vezes inviabilizam a mobilidade das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.
Assim, faz-se necessário investir cada vez mais em acessibilidade que permita a construção de rotas e percursos acessíveis em todos os caminhos que levam à Rodoviária e no seu interior, para garantir a inclusão e o direito de ir e vir de todos.
Ótima reportagem. Necessidade de chamar a atenção dos políticos para atendimento a lei q determina acessibilidade para todos. Inclusão social é isso. Parabéns pelo exercício de divulgação.
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