Violência no trânsito – DF

Os dados estatísticos, as notícias e as imagens no dia a dia revelam que se mata e se fere muito nas vias do Distrito Federal. Todo ano, mais de 300 pessoas morrem nas vias do DF. E outras centenas ficam feridas e com sequelas irreversíveis.

O alto limite de velocidade, a imprudência e a concepção automotiva da cidade (com muitas pistas largas voltadas ao transporte individual motorizado) contribuem para os números pouco animadores.

Notícias de 2018: massacre nas pistas. Fonte: G1-DF e Correio Braziliense.

– Artigo publicado no Correio Braziliense (8/4/2015):

artigo_08-04-2015_correiobraziliense_violenciatransito_uiralourenco

Violência nas ruas de Brasília

Em 2020, a brutalidade nas pistas continua em alta. E os ciclistas continuam entre as principais vítimas. As notícias revelam a impressão que se tem nas ruas: a imprudência e a alta velocidade continuam ceifando vidas e destroçando famílias.

Em outubro, ocorreram mais atropelamentos e mortes de ciclistas. Um ato para homenagear e lembrar das tragédias foi realizado, com a instalação de ‘ghost bikes’ nos locais.

Cartaz da Bicicletada em homenagem a ciclistas mortos em Brasília, em outubro/2020.

Bicicletada, ato em homenagem a ciclistas mortos. 18/10/2020. Fotos: Uirá Lourenço.

Atropelamento no Eixão: dois garotos atropelados ao tentar atravessar.

– Notícias da violência no trânsito do DF (2020):

– Fotos da violência no trânsito do DF:

album_acidentes-transito_slide-2
album_acidentes-transito_slide-3
album_acidentes-transito_slide-4
album_acidentes-transito_slide-5
album_acidentes-transito_slide-6
album_acidentes-transito_slide-7
album_acidentes-transito_slide-8
album_acidentes-transito_slide-9

– Notícias da violência no trânsito do DF (2019):

– Notícias da violência no trânsito do DF (2018):

A seguir, manchetes de notícias sobre o trânsito no Distrito Federal. Clique nas imagens para acessar os links das notícias.

G1-DF, 14/6/2018

Correio Braziliense, 8/6/2018

Metro Brasília, 8/5/2018

Jornal de Brasília, 3/5/2018

Correio Braziliense, 11/6/2018

G1-DF, 1/6/2018

Metrópoles, 31/5/2018

Metrópoles, 21/5/2018

Correio Braziliense, 20/5/2018

Metrópoles, 20/5/2018

Metrópoles, 17/5/2018

G1-DF, 5/5/2018

Metrópoles, 16/4/2018

Correio Braziliense, 16/4/2018

G1-DF, 13/4/2018

G1-DF, 8/4/2018

Metrópoles, 7/4/2018

G1-DF, 7/4/2018

G1-DF, 1/2/2018

G1-DF, 1/2/2018

G1-DF, 18/1/2018

– Notícias da violência no trânsito do DF (2015/2016):

noticias_violencia-transito_slide-14
noticias_violencia-transito_slide-2
noticias_violencia-transito_slide-3
noticias_violencia-transito_slide-4
noticias_violencia-transito_slide-6
noticias_violencia-transito_slide-5
noticias_violencia-transito_slide-7
noticias_violencia-transito_slide-8
noticias_violencia-transito_slide-9
noticias_violencia-transito_slide-11
noticias_violencia-transito_slide-12
noticias_violencia-transito_slide-13

– Artigos sobre a violência no trânsito do DF

Maio Vermelho no DF – mais um mês de massacre nas vias

Publicado por Brasília no dia 08 de junho de 2016

Textos e fotos: Uirá Lourenço

Era para ser o Maio Amarelo – movimento criado para envolver governo e sociedade em ações práticas e no debate sobre segurança no trânsito –, mas a verdadeira cor se revela a cada dia com as mortes, os atropelamentos, o excesso de velocidade e a embriaguez ao volante. Os jornais estampam diariamente a vergonhosa violência no trânsito do Distrito Federal.

artigo_maio-vermelho_blog_imagem-1

Manchetes de jornal de maio/2016 (Correio Braziliense)

Outrora conhecida pelo respeito à faixa de pedestre, a capital federal cada vez mais fica marcada pela imprudência, pela intolerância (a buzina tem sido usada com maior frequência) e pelas cenas aterrorizantes de carros e pessoas destroçadas nas pistas. Definitivamente, não há o que celebrar: segundo dados preliminares, 39 pessoas morreram em acidentes de trânsito no DF apenas em maio deste ano, um aumento de mais de 40% em relação ao mesmo período de 2015.

O contexto de alta velocidade, com largas vias expressas tão bem simbolizadas pelo Eixão (conhecido como Eixão da Morte), contribui para o cenário sangrento. Fala-se muito em infraestrutura e se faz muito pouco em humanização da cidade. Ciclovias e calçadas acabam surgindo como soluções mágicas para a mobilidade. Constrói-se e está tudo resolvido: basta esperar a enxurrada de pedestres e ciclistas sedentos por usar os novos caminhos.

Ledo engano. Apesar de contar com mais de 400 km de ciclovias, a cultura ciclística pouco avançou. No trajeto diário de bicicleta é nítido o contraste entre pistas entupidas de carros e ciclovias vazias.  Em muitos dos percursos diários, pedalo vários quilômetros sem cruzar com outro ciclista.

 artigo_maio-vermelho_blog_imagem-2 artigo_maio-vermelho_blog_imagem-3

Ciclovias vazias e pistas repletas de carros, no Eixo Monumental e no Sudoeste.


A tendência moderna em mobilidade é priorizar a pessoa e restringir o uso do transporte individual motorizado. A humanização da cidade vai além de construir ciclovias e calçadas, e implica na redução de velocidade das vias, na restrição à circulação dos carros, na modernização e priorização do transporte coletivo, na criação de praças e áreas de lazer e convivência, na cobrança pelo estacionamento nas áreas públicas. Aliás, Brasília é a única ou uma das poucas captais sem estacionamento rotativo pago. Aqui se estaciona gratuitamente e sem limite de tempo nas vagas sinalizadas, e também em canteiros, calçadas e ao longo das vias.

– Limite de velocidade

A capital federal não possui um programa de redução do limite de velocidade nas vias. Em solicitação de informações enviada ao Detran-DF em março de 2015, questionei se o governo possuía “proposta de redução dos limites de velocidade e de implementação de medidas de moderação de tráfego” e o órgão respondeu que “não existe até o presente momento um estudo direcionado à redução dos limites de velocidade de forma generalizada”.

Muitas vias que passam pela cidade são tratadas como rodovias, apresentam alto limite de velocidade e escassos – e nem sempre seguros – pontos de travessia a pedestres e ciclistas. Entre as rodovias estão a Estrada Parque Indústria de Abastecimento (EPIA), a Estrada Parque Taguatinga (EPTG), a Estrada Parque Vicente Pires (EPVP) e a Estrada Parque Aeroporto (EPAR). Nestas e na maioria das vias do DF pedestres e ciclistas passam sufoco em razão da lógica rodoviarista que prioriza a fluidez motorizada.

Vídeos gravados no Eixão, na EPTG e na EPVP revelam o tormento de caminhar e pedalar num ambiente nitidamente rodoviarista. Outro vídeo revela o sufoco em diversos pontos do DF.

artigo_maio-vermelho_blog_imagem-4

Alto limite de velocidade é marca registrada da capital federal. No Eixão, assim, como em muitas outras vias, limite teórico de 80 km/h.

artigo_maio-vermelho_blog_imagem-5

Alto limite de velocidade e ausência de pontos seguros de travessia assustam pedestres e ciclistas. EPIA, próximo ao Parque Nacional de Brasília.

No ano passado ocorreram 351 mortes nas vias do DF. Apesar de ser o menor valor na série histórica desde 2000, ainda é um valor bastante elevado, que significa centenas de famílias destroçadas. E ainda há que se considerar os inúmeros mutilados com sequelas irreversíveis, que não aparecem nas estatísticas do órgão de trânsito. Neste ano, até março, os dados do Detran-DF revelam que 73 pessoas já morreram em razão da violência no trânsito.

Certamente o alto limite de velocidade representa um fator que desencoraja novos adeptos da caminhada e da pedalada. Um programa sério de redução de velocidade traria resultados significativos na diminuição dos acidentes, das mortes e das sequelas físicas no trânsito. Além da maior segurança a todos os usuários das vias, a redução de velocidade poderia ser fator para incentivar mais adeptos da bicicleta no dia a dia.

Ao contrário da capital do país, onde não há amplo programa voltado à redução de velocidade, outras cidades propõem ações com foco na redução dos acidentes e das mortes no trânsito. Nova York, Helsinki e outras cidades da Europa e dos Estados Unidos se inspiraram na abordagem Visão Zero e passaram a reduzir o limite de velocidade e a adotar medidas humanizadoras, com foco na segurança e não na fluidez motorizada. O conceito Visão Zero no trânsito foi adotado na Suécia em 1997, e a premissa básica é não se admitir qualquer morte no trânsito. A responsabilidade no trânsito é compartilhada por todos: usuários, planejadores e agentes de fiscalização.

Em Nova York, o número de mortes no trânsito tem caído ao longo dos anos e a cidade é referência no tema: em 1990, ocorreram 701 mortes no trânsito; em 2000, 381; em 2011, 249 mortes. São Paulo adotou programa de redução de velocidade em várias vias e propôs o limite de velocidade de 40 km/h na área central (programa Área 40). As notícias recentes revelam queda no número de mortes no trânsito em São Paulo.

– Infraestrutura e insegurança no DF

Aliada à ausência de ações para conter o altíssimo limite de velocidade no Distrito Federal, a infraestrutura voltada a pedestres e ciclistas é de baixíssima qualidade, sem preocupação com os mais frágeis no trânsito. Para exemplificar, as ciclovias terminam onde mais se precisa delas: em pontos com grande fluxo de carros em alta velocidade. E as calçadas construídas recentemente ou em construção nada resolvem os graves problemas de insegurança decorrentes da inexistência de travessia segura, da imprudência e do alto limite de velocidade.

artigo_maio-vermelho_blog_imagem-6

Calçada construída em canteiro sem ponto seguro de travessia aos pedestres, obrigados a atravessar correndo no meio dos carros e ônibus. W3 Norte (713N).

artigo_maio-vermelho_blog_imagem-7

Ciclovia termina de forma abrupta e cede espaço a carros estacionados em todo o espaço público, em frente a centro universitário na Asa Norte (708N/908N).

Em junho, infelizmente, a tendência é de perdurar a carnificina das vias do DF, como evidenciam as manchetes dos jornais neste início de mês.

artigo_maio-vermelho_blog_imagem-8

Manchetes do início de junho (jornal Correio Braziliense)

Sem medidas efetivas para conter o alto limite de velocidade e limitar a circulação automotiva na área central (acompanhadas de melhorias efetivas no transporte coletivo), a capital federal continuará ostentando números vergonhosos no trânsito. Ações esporádicas, como o Maio Amarelo ou a Semana Nacional do Trânsito, são incapazes de conter a fúria motorizada nas largas vias expressas do DF.

Já se perdeu a oportunidade de emplacar ações efetivas de segurança no trânsito durante o Maio Amarelo. E junho se iniciou com mais notícias de graves acidentes, incluindo dois ciclistas atropelados em 5/6, dia mundial do meio ambiente. Ao final do mês, tudo indica que teremos, em vez de um Junho Verde, sustentável e com menos acidentes e mortes no trânsito, mais um mês vermelho a manchar a história da capital federal.

https://brasiliaparapessoas.wordpress.com/2015/11/02/mais-mortos-e-feridos-nas-vias-do-df-novembro-vermelho/

Em Brasília, capital dos motores, com a fama de ser habitada por seres dotados de cabeça, tronco e 4 rodas, as manchetes diárias dos jornais revelam o lado mais danoso da política de incentivo ao transporte individual motorizado: acidentes e mortes no trânsito.

Vidas que se vão, sequelas físicas permanentes, famílias destruídas. Políticas públicas sérias de mobilidade urbana, com foco na segurança no trânsito e não na fluidez motorizada, poderiam reverter esse quadro sangrento.

Medidas simples e baratas, como a redução dos altos limites de velocidade nas vias do Distrito Federal, resultariam em benefícios diretos. Mas o DF carece de uma política de mobilidade focada na segurança e vias como o Eixão e L4 têm limite teórico de velocidade de 80 km/h (mas na prática, longe do alcance dos pardais, muitos motoristas passam dos 100 km/h).