A diarista e o bebum

Texto: Uirá Lourenço

Eram 5h da manhã. Ela, de moto, moradora de Águas Lindas/GO (a 50 km de Brasília). Ele, de carro, morador do Noroeste (bairro de alta renda em Brasília). Infelizmente seus destinos se cruzaram.

A morte foi brutal: múltiplas fraturas e traumatismo craniano. O rico no carro possante, bêbado. A trabalhadora que madrugou e vinha de longe. Enredo conhecido não só em Brasília, mas em todo o país. Tragédias nas pistas, trabalhadores a pé, de bicicleta ou de moto assassinados por motoristas em alta velocidade, muitas vezes alcoolizados, em carros de luxo.

Maria, Daniel; diarista, bancário; moradora do Entorno, morador da área central; de moto, de carro. Contraste de gênero, de classe e de poder. O poder na pista, de transitar sem limites de velocidade e de álcool no sangue.

O enredo se repete no pós-tragédia: motorista fujão, que não presta socorro, evita o ‘bafômetro’ e a prisão em flagrante. Dias depois se apresenta rodeado por advogados e fica em silêncio na delegacia.

A investigação revela que Daniel passou horas no bar, farreando. E saiu dirigindo, pronto pra matar. Revoltante! Tantos casos similares pelo país.

Em Goiânia, em 2020, Frederico dirigia uma Mercedes em alta velocidade, invadiu o canteiro central, atropelou e matou a diarista Nilma Maria, que deixou dois filhos órfãos. Outro caso ocorreu em Goiânia, em junho do ano passado. Clenilton era vigilante e ia de moto para o trabalho, quando foi atropelado e morto, às 5h40, por Antonio, que dirigia alcoolizado uma Mercedes e fugiu sem prestar socorro.

Em São Paulo, ano passado, dois casos envolvendo carro de luxo e assassinato no trânsito. Na madrugada de 31/3, Fernando dirigia seu Porsche em alta velocidade, bêbado, quando atingiu o carro de Ornaldo, que trabalhava como motorista de aplicativo. Ornaldo morreu. O laudo indicou que Fernando dirigia a 136 km/h na avenida com limite de 50km/h. Em 29 de julho, Igor conduzia seu Porsche a 102 km/h em local com limite de 50 km/h, atropelou e matou Pedro, que fazia entregas de moto. O motorista atropelou propositalmente após ter o retrovisor quebrado pelo motociclista.

Até quando a selvageria e arrogância nas pistas?!

Uma vida, uma família (dois filhos, de oito e dez anos) e amigos destroçados. Mais uma vida que se vai em vão. Adeus, Maria Núbia.

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O assassinato de Maria Núbia ocorreu no dia 15/4, foi noticiado pelos jornais locais (notícia do Metrópoles). Segundo o G1, o motorista ficou em bar de 21h até 4h.

3 comentários sobre “A diarista e o bebum

  1. “Toda noite, antes de dormir, oramos juntos. As crianças, que estão aprendendo a lidar com essa perda, mandam beijos para ela e pedem proteção. Não houve despedida. Quis poupá-los de ver a mãe em um caixão.” O relato é de Gleidson da Silva, 40 anos, marido de Maria Núbia dos Santos, 46, motociclista atropelada e morta por um motorista alcoolizado no Noroeste, em 15 de abril. A diarista, que morava em Águas Lindas, no Entorno do DF, e estava a caminho do trabalho quando foi morta, entrou na triste estatística que contabilizou oito mortes no trânsito do Distrito Federal em menos de uma semana, entre 11 e 15 de abril.

    Fonte: Correio Braziliense (27/4/2025) – https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2025/04/7124570-51-pessoas-morreram-no-df-em-acidentes-de-transito-de-janeiro-a-15-de-abril.html

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