Uirá Lourenço
Este mês o governador Ibaneis inaugurou o Túnel de Taguatinga (oficialmente chamado de Túnel Rei Pelé), considerada a maior obra viária em andamento no país. Em publicação do Governo do Distrito Federal (GDF) no instagram muitas pessoas questionaram a denominação e a falta de consulta aos moradores para decidir sobre o nome de batismo.
Prefiro chamar de Túnel Rei Automóvel, afinal a prioridade para quem dirige fica escancarada. Com extensão de 1 km e custo de construção estimado em R$ 275 milhões (sem contar o alto custo de manutenção), é curioso notar que pelo túnel não passa o transporte coletivo, nem pedestres e ciclistas. A notícia do GDF deixa claro que só pode automóvel: ‘(…) apenas carros leves e de passeio poderão trafegar pelo túnel nesta fase inicial. Ônibus, caminhões, ciclistas e pedestres estão proibidos de adentrar a passagem’.
Outra informação que chamou atenção (muitas notícias sobre a grande obra foram publicadas pela Agência Brasília) foi a existência de uma Central de Controle Operacional (CCO) com servidores monitorando o trânsito no túnel de forma ininterrupta. Enquanto isso, até hoje o DF sofre com a falta de uma CCO para monitorar o sistema de ônibus e o Departamento de Trânsito carece de servidores para as diferentes funções do órgão, como a parte de engenharia de trânsito.
A inauguração ocorreu no Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), data que marca também o aniversário de Taguatinga. A região bem que merecia uma verdadeira obra de mobilidade, por exemplo um bonde elétrico (VLT) para transportar as pessoas de forma ágil e não poluente e ciclovias interligadas, com sistema de bicicletas compartilhadas.
Anúncio do GDF na L2 Sul. Será mesmo que o melhor começa agora?!
Em reportagem da TV Distrital muitos deputados presentes à inauguração elogiaram a obra do túnel. Um dos parlamentares disse que se trata de obra de país de primeiro mundo.
Pelo que acompanho e estudo sobre mobilidade urbana, nas cidades modernas de países desenvolvidos projetos rodoviaristas com foco no automóvel ficaram no passado há algumas décadas. A ordem da vez é ampliar a rede de transporte coletivo – com frota de ônibus modernos, preferencialmente elétricos, VLT e metrô –, investir em calçadas e ciclovias e restringir o espaço dos carros (inclusive, reduzindo as vias e transformando estacionamentos em praças).
Enquanto isso, as melhorias para quem usa ônibus continuam na promessa. Segundo outra notícia do GDF, o futuro corredor de ônibus (Eixo Oeste) com 38,7 km de extensão vai conectar o Sol Nascente/Pôr do Sol ao Plano Piloto.
Já vi essa novela antes. O BRT Norte e o terminal multimodal da Asa Norte até hoje não saíram do papel. A obra multimilionária da Saída Norte (batizada no atual governo de Complexo Viário Governador Roriz) promoveu o alargamento das pistas e construiu viadutos sem qualquer melhoria para quem usa ônibus.
Novas pistas e viadutos da Saída Norte sem o prometido BRT.
Em suma, o túnel inaugurado já nasce ultrapassado..🚗🏍🚘🚙
Obra feia como a cara do governador.
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Obra rodoviarista multimilionária que estimula ainda mais o uso do automóvel, em detrimento de opções de transporte mais eficientes e menos poluentes. Bem a cara do atual governo, que insiste em alargar pistas e construir trevos rodoviários por todo o DF.
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Desenho geométrico lamentável, estrangulamento sentido Ceilândia – Plano Piloto, sem prioridade para transporte coletivo e pedestres.Triste. Atraso.
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Quando vejo inaugurações desse tipo, como a inauguração parcial do trevo entre o Sudoeste e o Parque da Cidade, sempre me pergunto até quando vai persistir essa visão das autoridades, que insistem num modelo insustentável e ultrapassado.
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Matéria sem pé nem cabeça, sem conhecimento técnico algum. O túnel trouxe muitos benefícios para os pedestres que circulam na cidade. A via expressa que passa acima do túnel, ao ar livre, ficou para o transporte público, maior rapidez para que usa ônibus para locomoção. Lamentável esse tipo de jornalismo.
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Olá, Joana. As referências estão no texto, não sei se chegou a ver. A opção do GDF ao executar essa obra multimilionária está bem clara nas notícias divulgadas: ‘mais de 137 mil motoristas beneficiados’. Pedestres, ciclistas e ônibus estão proibidos de circular pelo túnel. Eventuais melhorias no transporte coletivo ficaram para depois, como é de praxe por aqui. Não sei se lembra quantos anos o corredor da EPTG levou para entrar em operação. E mesmo hoje opera em condições aquém do desejável e não atrai usuários do transporte individual motorizado.
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Sou moradora de Taguatinga, só andar pela cidade a gente já percebe que a cidade não tem nenhum tipo de acessibilidade. Calçadas irregulares, tudo aqui fica disponível para o carro que se sente a vontade para estacionar até na área de pedestre, ou mesmo em áreas de rampas. O comércio tomando as calçadas, não tem espaço para a gente caminhar.
Então, no túnel não poderia ser diferente. Desde que vim para Brasília, sonho com a ampliação do metrô. Isso sim faria diferença. Em vez disso, só obra para carro andar.
Parabéns a quem votou no Enganeis. Brasília sempre há um passo atrás.
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Dani, não moro em Taguatinga, mas conheço a região, vou com alguma frequência. É mesmo difícil andar por Taguatinga em razão das calçadas ruins e invadidas por motoristas. Se já é difícil para pessoas ‘comuns’, imagine para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Infelizmente a inacessibilidade se dá em todo o DF. Mesmo na área central, ‘nobre’, as condições estão longe do ideal.
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Só carro leve… leve como o pensamento superficial de quem patrocinou!
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Boa reflexão. Pensamento leve e superficial que resultaram numa obra pesada e cara que reforça a visão atrasada de mobilidade que ainda persiste. Um dia há de mudar. Quantas décadas ainda levará?
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